Profeta

Esta palavra é derivada do ter­mo grego prophetes, “aquele que fala sobre aquilo que está porvir [ou adiante]”, um proclamador ou intérprete da revelação di­ vina (Arndt, p. 730). Ela geralmente refere- se àquele que age como porta-voz. As vezes, também é sinónimo de “Vidente” ou “pessoa inspirada”, e traz a conotação de um prenunciador ou revelador de eventos futuros. O uso prático determina o sentido em que a palavra deve ser entendida.

Terminologia

No AT hebraico são encontra­ das diversas palavras cujo significado preci­so deve ser determinado mais pelo uso do que pela etimologia. Entre elas, aquela que ocorre mais frequentemente é nabi’. Várias tentativas foram feitas pelos estudiosos para descobrir o significado etimológico dessa palavra (cf My Servants the Prophets, pp. 56-57), porém os resultados não foram satisfatórios. Entretanto, sua utilização co­mum mostra a força que possui. Dessa for­ma, em Deuteronômio 18.18, Deus afirma que o profeta (nabi’) declarara tudo que Ele lhe ordenar. Novamente, em Exodo 7.1, essa palavra tem o mesmo significado. Outras passagens são Êxodo 4.15,16; Jeremias 1.17a; 15.19 etc. Em todas elas, e na verdade através de todo o AT, a palavra nabi’ apa­rece como aquele que declara uma mensa­gem em nome de um superior.

No AT, não há nenhuma ênfase na maneira pela qual a divina revelação é recebida, mas sim sobre a proclamação da mensagem. A esse respeito, a religião divinamente revelada do AT é considerada como sendo de natureza bastante prática. Em muitas culturas pagãs, por outro lado, o que é proeminente é a ma­neira pela qual o vidente recebeu a mensa­gem. Parece que não é a proclamação propri­amente dita, mas o obscuro cenário de misté­rio que recebe a maior ênfase.

Nesse ponto, o AT mostra um contraste muito grande com o mundo pagão. Não há dúvida de que a men­sagem profética não é de origem humana, mas divina (2 Pe 1.20,21), e por essa razão o pro­ feta do AT era diferente do adivinhador pa­gão ou vaticinador da Antiguidade. Enquan­to o adivinhador poderia ter recebido sua “mensagem” ou presságios através de méto­dos de invenção humana, as palavras do pro­feta originam-se de sonhos e visões enviadas por Deus. Miquéias afirmava que estava cheio de poder – do Espírito do Senhor – para tor­nar conhecidos à nação de Israel os pecados que haviam praticado (Mq 3.8).

Duas outras palavras, ro’eh e hozeh, ambas particípios, dizem respeito àquele que vê, e são praticamente usadas como sinônimos. Em ambas, a força recai sobre o método de receber a revelação, isto é, de ver. Ro’eh e hozeh eram homens que recebiam a mensa­gem que Deus lhes havia enviado. É difícil dizer se essa visão acontecia através dos olhos físicos, ou de uma visão, ou se a pala­vra poderia estar referindo-se a uma visão metafórica como um discernimento sobrena­ tural. E possível que o vidente fosse simples­ mente um homem que com seu “olho interi­or” enxergava a verdade que Deus lhe envi­ava. Ao mesmo tempo, está claro a partir de uma comparação entre as principais passa­gens nas quais essa palavra ocorre (por exemplo, 1 Sm 9.9; Is 30.9,10) que ro’eh e hozeh eram porta-vozes de Deus. Sua fun­ção era a mesma do nabi’.

Resumindo, pode­ mos dizer que o profeta do AT, por qualquer nome que porventura lhe fosse designado, era aquele em cuja boca Deus havia coloca­ do suas Palavras, e que transmitia essas preciosas Palavras ao povo.

Os profetas na Igreja

Os profetas continua­ram a desempenhar um papel importante na Igreja do NT. Paulo escreve que a Igreja, a casa de Deus, foi edificada “sobre os funda­ mentos dos apóstolos e dos profetas” (Ef 2.20), e que o mistério da igual posição dos gentios no Corpo de Cristo foi “revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef 3.5). Havia homens conhecidos como “profetas” especialmente escolhidos para o constante e regular ministério da profecia (Ef 4.11). De­pois dos próprios apóstolos, eles eram os ministros que ocupavam a mais elevada po­sição na Igreja primitiva (1 Co 12.28).

Tais profetas permaneceram em evidência ao longo do livro de Atos. Seu ministério era geralmente duplo: o de pronunciar (procla­mar), e o de prever (prenunciar). Observe como Agabo, em duas ocasiões diferentes, previu acontecimentos futuros para que os cristãos se preparassem para uma emergên­cia que se aproximava (At 11.27-30; 21.10­-14). Eles forneciam direção espiritual à Igre­ja de Antioquia porque, evidentemente, atra­vés de um deles o Espírito Santo dava or­dens relativas ao futuro trabalho evangelístico de Barnabé e Saulo (At 13.1-4). O tra­balho de dois outros profetas era exortar (ou “consolar”) e fortalecer os irmãos (At 15.32), e era semelhante às funções da profecia re­lacionadas em 1 Coríntios 14.3, isto é, edificação, exortação e consolação.

Em uma reunião da Igreja, um profeta pode­ria receber uma revelação que seria comparti­lhada com os crentes reunidos (1 Co 14.30), Como diz J. A. Motyer, “Esse fato poderia as­sumir a forma de um pronunciamento espon­tâneo que está associado à atividade do Espí­rito de Deus (cf. 1 Ts 5.19)… é uma percepção da verdade de Deus transmitida de modo in­teligível à assembléia” (NBD, p. 1045).

Paulo ensinou que o profeta deve pronunci­ar suas mensagens de maneira ordenada, e que “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de con­fusão, senão de paz” (1 Co 14.32,33). Em pri­meiro lugar, a mensagem de um profeta deve ser julgada pelos outros profetas presentes (14.29), e depois pelos demais crentes. Este julgamento é feito comparando a mensagem do profeta com os ensinos dos apóstolos, que são os depositários absolutos da Palavra de Deus (14.36-38). Portanto, não parece que os profetas do NT estivessem longe ou mes­mo separados das fontes doutrinárias dos apóstolos, que tratavam da recém-manifes­tada verdade doutrinária da Igreja. Marcos, Lucas e Judas, por exemplo, podem ter sido profetas que escreveram seus livros sob a orientação de um ou mais apóstolos, assim como sob a direta inspiração do Espírito San­to.