O livro de Apocalipse

Este livro que conclui o NT revela a vitória final e perma­nente obtida pelo Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele mostra o governo do céu, o es­tabelecimento da justiça, e uma revelação da casa celestial em sua glória e beleza infini­tas. O livro de Apocalipse é a conclusão per­feita e inevitável da revelação Divina.

“Revelação” é uma palavra latina do verbo revelare, significando “revelar ou descobrir o que estava anteriormente oculto”. Reve­lação é o título deste livro na Vulgata Lati­na e nas traduções inglesas. O título grego é Apocalipse, tirado diretamente da primei­ra palavra do texto gr. apokalypsis. Como um verbo, é frequentemente usado no NT, particularmente como uma referência às re­velações especiais de Deus ao homem em Jesus Cristo (Lc 17.30; Rm 8.18; 2 Ts 1,7; 1 Pe 1.6.13).

Autor e Data

Foi o veredicto unânime da igreja primitiva, e geralmente, embora não exclusivamente, dos estudiosos bíblicos desde então, que o autor foi o apóstolo João, o escritor do quar­to Evangelho.

Ele inseriu o seu nome real quatro vezes neste livro (Ap 1.1,4,9; 22.8). A maioria dos estudiosos conservadores hoje concorda que João escreveu este livro na ilha de Patmos, para onde havia sido banido pelo imperador Domiciano (81-96 d.C).

Características

É interessante notar que das 916 palavras diferentes encontradas no texto grego de Apocalipse, 416 delas também sâo encontra­ das no quarto Evangelho, 98 ocorrem ape­nas em outras passagens do NT, enquanto que 108 não são encontradas em nenhuma outra parte no NT. Palavras significando “ver”, “perceber” etc., ocorrem, aproximada­ mente 150 vezes neste livro. Às vezes João registra o que ouve, mas de uma forma ge­ral o apóstolo registra aquilo que ele vê. É estimado que em seus 265 versículos este­jam contidas 550 referências a informações do AT, incluindo 79 a Isaías. O livro em si faz, com frequência, um paralelo exato, e completa as profecias do livro de Daniel.

Os primeiros três capítulos de Apocalipse di­zem respeito às sete igrejas da Ásia, à ma­neira como elas existiam até o final do século I. A visão da atividade celestial registrada nos caps. 4 e 5 não possui um fator de tempo es­pecífico. Começando com o cap. 6, porém, são profetizados acontecimentos que não ocorre­ram nesta terra. Quaisquer que possam ter sido as tentativas de diferentes comentado­res, como por exemplo, de identificar o gafa­nhoto saindo do abismo no cap. 9, nenhuma catástrofe mundial desse tipo ocorreu envol­vendo os números mencionados neste texto sagrado. “E o número dos exércitos dos cava­leiros era de duzentos milhões” (9.16). O go­ verno do Anticristo no cap. 13 não deve ser identificado com qualquer acontecimento do passado, nem com a batalha do Armagedom. Portanto, este é um livro que está principal­ mente relacionado com eventos que ainda estão por vir, com as terríveis destruições e tribulações que ocorrerão no final desta era, com a segunda vinda de Cristo, com o Milênio, com o tribunal do Grande Trono Branco, e com o nosso lar eterno no céu.

O Apocalipse, acima de cada um dos outros livros da Bíblia individualmente, é um livro de alcance mundial. Nele ocorrem frequen­temente frases como, “muitos povos, e na­ções, e línguas, e reis” (10.11; 11.9; 17.15). Quando os reis são apresentados, eles são frequentemente citados como os “reis do mundo inteiro” (16.14; 17.2,18; 18.9; 19.19). Sobre Satanás é dito que ele é “o sedutor de todo o mundo”, ou aquele “que engana todo o mundo” (12.9). A besta do mar recebe “poder [ou autoridade] sobre toda tribo, e lín­gua, e nação” Í1S.’7,8), Cristo por fim reina­rá sobre “os reinos do mundo” (11.15). Embora o livro de Apocalipse seja um livro de vitória final gloriosa e permanente, ele é ao mesmo tempo um livro de constantes con­flitos até o final de suas profecias. E signifi­cativo que palavras como “rei”, “reino”, “go­verno”, “trono”, “conquista”, “poder”, “guer­ra”, “matança”, “matar” sejam usadas tanto em referência a Cristo, como a Satanás e ao Anticristo, e também aos outros inimigos de Deus. Embora haja 38 referências ao trono de Deus de 1.4 a 22.3, Satanás tem um tro­no (2.13; 13.2), e a besta também (16.10).

A palavra ‘‘matar” (gr. apokteinoo) ocorre mais frequentemente aqui do que em todo o restante do NT reunido, O cavaleiro no ca­valo amarelo matou com a espada, com a fome, e com a morte (6.8,11; veja também 9.15,18). As testemunhas em Jerusalém fo­ram mortas pela besta (11.7); mas no final do livro, na batalha do Armagedom, “os de­ mais foram mortos com a espada que saía da boca do que estava assentado sobre o ca­valo” (19.21). Na última parte do livro é men­cionada uma guerra no céu (12,7); uma bes­ta que possuía grande poderio militar (13,4); os reis da terra que guerrearam contra o Cordeiro (17.14); e o próprio Cristo em um cavalo branco, sobre o qual foi dito, “O que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça” (19.11), Às vezes, os inimigos de Deus ven­cem os santos de Deus (11.7; 13.7 etc.). Mas estes poderes são por fim derrubados, e para todos os crentes de todas as idades é feita uma promessa: “Eles o venceram pelo san­gue do Cordeiro e pela palavra do seu teste­munho; e não amaram a sua vida até à mor­te” (12.11).

Ao estudar este livro, e ao tentar separar seus diversos períodos e tipos de atividade, note que há aqui uma sequência alternada de ce­nas no céu e na terra. Assim, a descrição do Filho de Deus no céu nos caps. 4 e 5 é seguida pelos juízos dos seis selos sobre a terra. A se­gunda cena no céu (7.9-8.5) é seguida pelos juízos das sete trombetas. A voz do céu regis­trada no cap, 10 é seguida pelos terríveis even­tos dos caps, 11-13. Esta sequência de atividade no céu seguida de juízos na terra apre­senta enfaticamente duas grandes verdades, que o céu sabe de antemão o que ocorrerá na terra, e o que é decidido no céu é o que deve ocorrer na terra. Ao longo de todo o livro, um fato é continuamente enfatizado. Deus “tem posto em seu coração que cumpram seu in­tento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus” (17.17),

Dentro do contexto destas cenas celestiais, está uma série de 14 hinos extraordinários entoados no céu (4.8; 4.11; 5.9,10; 5.12; 5,13; 7.10; 7.12; 11.15; 11.16,17; 14.3; 15.3,4; 19.1,2; 19.3-5; 19.6-8). Estes hinos são can­tados por diferentes grupos, e dizem respei­to a vários temas. Às vezes, dirigidos a Deus; às vezes, a Cristo; e, às vezes, a ambos.

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